Sobre o amadurecer e
o voar dos filhos
Criamos filhos acreditando que
ganharão a suas vidas assim que completem seu ciclo de estudos e encontrem seus
parceiros e profissão. Antigamente filhos buscavam o mais breve possível sair
de casa e dar início a sua vida pessoal, profissional e relacional. Mas como o
passar do tempo e as mudanças na criação e de vários padrões de comportamento e
exigências, transformaram muitos desses jovens em filhos paralisados,
descompromissados e pouco responsáveis pelo seu futuro e com suas
subsistências.
Tenho recebido depoimentos de
várias mães que não sabem o que fazer com seus filhos, jovens adultos, que
parecem não amadurecer para a vida e para o trabalho. A maioria completa os estudos,
mas nem sempre se sentem prontos para começar a vida profissional, ou não
conseguem encontrar trabalho que julguem bom o suficiente ou com remuneração
satisfatória.
Filhos que nem por isso se sentem
compromissado para buscar novas oportunidade e que muitas vezes vivem como se
não tivesse nenhuma responsabilidade com sua própria vida. Muitas vezes
responsabilizam os pais pelo seu insucesso e cobram dos mesmos a manutenção de
suas necessidades materiais, essas nem sempre somente as básicas.
Mas quais as razões que levam
jovens a essa paralisação ou a essa falta de compromisso consigo mesmos? São
vários os fatores que levam a esses comportamentos e nem sempre podemos afirmar
que a culpa é apenas dos jovens.
Mudamos a forma de educar os
filhos, facilitamos e protegemos muitos os mesmos dos problemas que têm que
enfrentar e criamos condições muito confortáveis para que os filhos permaneçam
em casa muito além do que precisam. Crescer é uma escolha tanto dos pais que
“empurram” os filhos para a vida, assim como dos filhos de escolher assumirem
sua autonomia e responsabilidade.
Além disso mudou a sociedade,
onde mulheres casavam cedo e saiam de casa para construir sua família e
deixavam seu desenvolvimento profissional para segundo plano e os homens
buscavam seus empregos para sustentar sua família que logo constituíam.
O desenvolvimento profissional
passou a ter maior relevância e prioridade para homens e, principalmente para
mulheres, o que levou a construção familiar para um segundo momento e um
aperfeiçoamento profissional mais longo e continuo.
Por outro lado, a dificuldade na
busca de um emprego, a falta de experiência e uma remuneração nem sempre
satisfatória aos olhos dos jovens que sempre tiveram um consumo alto financiados
pelos pais, geram uma falta de interesse e motivação para a busca de sua
independência profissional, financeira e emocional.
Uma geração que permanecem sob o
teto dos pais usufruindo dos benefícios oferecido por esses que, nem sempre estão
satisfeitos com essa condição. Pais que também sofrem, muitas vezes calados,
com a sobrecarga financeira ou com a tristeza de ver seus filhos paralisados e
impotentes frente a vida.
Por outro lado, alguns pais,
passam a ver a permanência dos filhos como uma garantia de companhia e
segurança, financiando e patrocinando sua permanência mesmo sem perceber o
imenso prejuízo a que seus filhos ficam submetidos, já que o não voo destes e
os desafios e conquistas inerentes a essa trajetória não se transformam em
experiência e crescimento.
Muitos são os fatores que podem
determinar tais condições de ambos os lados, como fatores econômico,
profissionais, separações, imaturidades, medos, dependências emocionais entre
outras. Alguns filhos voarão em algum momento, mesmo que tardiamente, outros
permanecerão como filhos eternos.
A ironia está em acreditar que
não se bate assas e voa-se por falta de condições e experiências. É no voar e
arriscar-se que ganhamos força para buscar novos horizontes e novas dimensões
para nossa própria vida.
Vânia Oliva - Psicóloga da Casa do Crescer, com experiência clínica de 30 anos. Colunista dos sites Maezíssima e Markentista